A Urgência Fiscal do Governo: Necessidade Real ou Sinalização ao Mercado?

Por Pamela Gomes

A urgência do governo brasileiro em cortar gastos se deve a uma combinação de fatores econômicos e pressões do mercado financeiro. Primeiro, há um aumento contínuo da dívida pública, agravado por taxas de juros altas, o que cria um cenário de maior endividamento. Segundo Eduardo Cotrim, da gestora JGP, isso coloca o Brasil em uma “situação difícil”, com uma relação dívida/PIB crescente e a necessidade de pagar essa dívida com encargos elevados. Cotrim acredita que o governo enfrenta um dilema entre manter políticas sociais e controlar as despesas, especialmente em um cenário em que as metas fiscais são questionadas pelo mercado

As políticas fiscais do governo Lula têm buscado equilibrar compromissos sociais com demandas fiscais. Entretanto, algumas medidas enfrentam resistência por causa do impacto político, como cortes em benefícios sociais e em ajustes no salário mínimo. A sustentabilidade fiscal depende de cortes significativos, mas políticas de reajustes do salário mínimo acima da inflação e gastos obrigatórios em saúde e educação, que já aumentaram, tornam essa tarefa desafiadora. O economista Rodrigo Moliterno sugere que o mercado espera um ajuste de pelo menos R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões para melhorar a percepção de compromisso fiscal, enquanto especialistas da consultoria Tendências alertam que cortes paliativos podem não ser suficientes para resolver os problemas estruturais​

Além disso, o governo tem anunciado medidas para frear o aumento das despesas obrigatórias, como limitações no Benefício de Prestação Continuada (BPC), seguro-desemprego e abono salarial. Essas mudanças são necessárias para evitar um descontrole fiscal de longo prazo, mas causam preocupações sobre o impacto social. Uma estratégia que está sendo considerada é acionar “gatilhos” para limitar o crescimento das despesas obrigatórias caso ultrapassem o limite de 2,5% acima da inflação, conforme o novo marco fiscal. Essa abordagem, contudo, implica desafios políticos significativos, pois qualquer proposta que atinja diretamente benefícios sociais pode afetar a base de apoio ao governo​

A consolidação dessas mudanças exigirá emendas constitucionais, e o governo pretende dividir essa responsabilidade com o Congresso, uma estratégia para mitigar o ônus político do ajuste fiscal. Com isso, o governo espera enviar um sinal de seriedade ao mercado, enquanto busca um equilíbrio entre a estabilidade fiscal e a manutenção de políticas sociais necessárias para garantir apoio popular, especialmente com as eleições de 2026 se aproximando.

Foto: reprodução

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