Na última reunião do dia 08/05/2024, o Copom (Comitê de Política Monetária), reduziu o ritmo da queda da taxa de juros com um corte de 0,25 ponto percentual (p.p) e não 0,50 p.p como era esperado desde março. Padrão este que vinha sendo aplicado desde agosto, quando o Banco Central começou a reduzir os juros no país. As principais razões para essa mudança de rota foram o aumento nas projeções para a inflação, o mercado de trabalho forte e o cenário exterior nebuloso.
Essa previsão sobre a política monetária é chamada pelo mercado financeiro de “forward guidance”. É uma maneira de dar previsibilidade da condução dos trabalhos e mais conforto aos investidores internos e externos.
Uma série de fatores econômicos locais e internacionais que se desenrolaram ao longo do último mês contribuíram para o descumprimento da projeção feita anteriormente. Colaboraram para este feito, a alteração das metas fiscais brasileiras para os próximos anos com o anúncio do Ministério da Fazenda de que não vai fazer o déficit zero este ano, e a provável manutenção dos juros básicos norte-americanos em patamares elevados por mais tempo.
Com a situação das chuvas no Rio Grande do Sul há quem veja com cautela o que está acontecendo com a política fiscal, porque mais gastos serão necessários oque também deve trazer mais efeitos inflacionários para o país.
Com esta postura mais conservadora o Banco Central deixou claro seus temores a respeito da inflação daqui em diante, especialmente porque as projeções vêm aumentando. Afinal, se há pressões inflacionárias que podem levar a alta dos preços a se acelerar, o “instrumento” que o BC tem para controlar essa situação é justamente manter os juros um pouco mais elevados.
Parte desses temores inflacionários vêm de um mercado de trabalho mais aquecido. Isso porque, de um modo geral, quando o mercado de trabalho está mais aquecido, significa que as empresas estão contratando mais trabalhadores. Então, se elas estão demandando mais mão de obra, significa que elas também estão dispostas a pagar salários nominais maiores para esses trabalhadores. E isso implica em maior custo para as companhias. Esses custos, portanto, serão repassados nos preços dos produtos. E, assim, há mais inflação.
Outros acontecimentos externos e internos, podem trazer mais inflação.
Um deles é o possível aumento do petróleo (especialmente devido aos conflitos no Oriente Médio).
No cenário externo, o Banco Central tem acompanhado de perto a situação dos Estados Unidos. O Banco Central cita na ata da reunião a “residiência da inflação e a postergação do início do corte de juros nos Estados Unidos”. Grande parte desse “adiamento” do corte de juros se deve, também, a um mercado de trabalho também aquecido por lá.
Quando os juros estão altos nos Estados Unidos, isso acaba atraindo investidores para lá. Afinal, os títulos públicos norte-americanos, além de serem considerados os mais seguros do mundo, ainda estão com rentabilidades atrativas. Portanto, para tentar atrair esses investidores, os juros no Brasil precisam estar um pouco mais altos a fim de oferecer um rendimento ainda maior.
Com essa decisão o Banco Central deixou claro o compromisso de trazer as projeções da inflação no chamado “horizonte relevante” da política monetária para perto da meta. O objetivo do Banco Central é de trazer a inflação para 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
De fato, na ata, o BC afirma que “todos concordaram que política monetária mais contracionista, cautelosa e sem indicações futuras mostrava-se mais apropriada” e “todos corroboraram entendimento de que ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.